A Viagem
Temporada | Ficha Técnica | Fotos
2009
Umas das nossas principais buscas dentro da prática teatral é investigar este lugar potente, e ainda, ao mesmo tempo, desconhecido da comunicação com o público. Tentando nos debruçar sobre esta questão e saindo um pouco do nosso fazer convencional, concebemos A Viagem – uma trajetória sensorial entre ator e espectador. Ideia nada original, apenas fechar os olhos para ver melhor. Mas ainda, abrir um espaço imaginário dentro do próprio espectador, tentar criar um momento íntimo, um vínculo pessoal e humano com o ator, enfim, um espetáculo onde o espetacular se passa internamente dentro de cada um. Convocamos atores (dos mais sensíveis) e espectadores (dos mais curiosos) para se deixarem levar por estas histórias que, temos certeza, lhes conduzirá dentro de um universo cheio de coisas belas e saborosas: a sua própria imaginação.
Esta proposta de encenação foi concebida pela diretora francesa Léa Dant, primeiramente desenvolvido com sua companhia francesa, e depois em 2001 com atores paulistas. O resultado do trabalho foi apresentado unicamente no Festival Internacional de São José do Rio Preto – SP. Giovana Soar, que foi sua assistente e intérprete na montagem brasileira, propôs uma remontagem desta proposta cênica em Curitiba.
O espetáculo consiste em propor ao espectador uma viagem sensorial. De olhos vendados um espectador é conduzido por um ator que lhe narra sua história. Este pequeno trecho de história é construído pelo ator, que cria sua dramaturgia (incluindo fala, movimentos e estímulos sensoriais) integralmente. Neste percurso o ator proporciona ao espectador coadjuvante de sua história uma participação ativa, lhe propondo vivenciar sua história, suas expectativas, suas emoções. Através de estímulos sensoriais traduzidos pelo tato, fala, música, entre outros estímulos como cheiros, objetos, sabores. Esta viagem tem regras de funcionamentos técnicos e dramáticos; todas as historias passam por etapas semelhantes, são conduzidas por uma mesma trilha sonora, acontecem simultaneamente num mesmo espaço e terminam num momento de ruptura.
O sentido de ruptura, abandono, separação será vivenciado aqui fisicamente por este público-parceiro.
A Viagem tenta estabelecer um novo lugar de comunicação com o publico, um novo olhar para “enxergar” o ator, mesmo que seja de olhos vendados. A tentativa de tirar do teatro o que ele tem de visual (e ordinário, no sentido literal) e ampliar seus códigos e seu acesso ao espectador, faz com que o teatro amplie sua possibilidade de comunicação. Isto só é possível com a permissão do espectador e com sua disponibilidade em entrar neste jogo.
A sensibilidade é o que nos move, e criar um vínculo afetivo entre ator-público é um dos nossos objetivos. Neste espetáculo não é permitido filmar, nem fotografar, muito menos ser “assistido”, para garantir a intimidade e a total entrega do público.
Este espetáculo (nada espetacular) não se enquadra na interatividade (do modo como esta é usualmente empregada), ele vai além. De maneira sutil, dentro dos limites e vontades de cada um dos espectadores, com muito bom-senso, técnica, aprimoramento e poesia, este espetáculo se traduz muito mais como um encontro.
Encontro, a tradução perfeita para o evento teatral.