PRETO
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PRETO
É o que não sabemos, mas queremos afirmar como possibilidade futura. Outras formas de habitar o mundo, onde as diferenças brilhem. O novo projeto da companhia brasileira de teatro promove uma investigação sobre o que gera a recusa das diferenças em nossas sociedades, e principalmente sobre as possibilidades de coexistência e campos de interação entre as diferenças. Olha para o racismo na vivência brasileira e em perspectiva com o mundo e, a partir daí, reage artisticamente através de múltiplas visões e sentidos.
A experiência busca expandir através da arte as percepções sobre o outro e sobre os espaços de convivência e de formação de sensibilidades.
Em Julho de 2017, em Salvador, na Bahia, a filósofa e escritora ativista norte-americana Angela Davis afirmou numa conferência que “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde se encontram as mulheres negras, muda-se a base do capitalismo”.
Somos iluminados por esta e outras tantas falas e pensamentos, que vão desde os abolicionistas brasileiros do século XIX a pensadores contemporâneos como o sul-africano Achille Mbembe, dos escritos de Frantz Fanon à literatura de Ana Maria Gonçalves, da voz sensível da poeta e professora Leda Maria Martins às muitas conversas entre nós, artistas e colaboradores desta peça, e entre nós e as pessoas do público, pois realizamos conversas públicas nas diversas etapas de criação deste projeto, em várias cidades do Brasil e também fora do país.
A peça se articula, então, a partir da fala pública de uma mulher negra, uma espécie de conferência que se desdobra em imagens, mediações da palavra, ressignificações dos corpos, ativação da escuta e reverberação de sentidos numa sequência de tentativas de diálogo.
Em primeiro lugar o diálogo com os temas. Como falar – reagir artisticamente – às dimensões do racismo e das percepções históricas que nos definem como imagem social, voz, corpo atuante em meio a outros corpos? Em segundo lugar, o concreto desafio de criar diálogos entre nós, artistas dessa peça, pois nada nos pareceu evidente, desde o início. Sempre nos orientou a questão: Para quem queremos falar neste momento? Que vozes queremos ouvir? Que imagens queremos descrever? Como me vejo? Como me veem? Que espaços queremos ocupar? Quem fala? Quem escuta?
Marcio Abreu.
Rio, outubro de 2017.